- Tino,
pare imediatamente com isso. Tino volte aqui.
- Tino,
pare imediatamente com isso. Tino volte aqui.
A voz era
incisiva e impositiva, porém Tino, que trata-se de um cachorro destes que tem a
cara toda amassada e o corpo “toleital”, nem tchumf, caminhando estava,
caminhando continuou. Nem uma olhadela de nada, absolutamente, não era com ele
que aquela moça gritava.
- Tino, já
te avisei...aos berros) volte já aqui!
Neste
instante aparece na cena, o ajudante da jovem. Bem, nem tão jovem assim.
Digamos da jovem senhora. Tratava-se de um distinto senhor, destes que usam
bermuda branca com cinto marrom, meias esportivas ornando com aquele sapato de
couro branco, Os cabelos ralos, lisos e grisalhos dava-lhe um ar nobre, algo
meio “Orléans e Bragança”, sabe como é?!
- Não seria
melhor ir buscar o osso? – perguntou o nosso nobre ao que recebeu de nossa
jovem senhora histérica apenas um olhar. Nada mais do que um fulminante olhar.
Tentou
pega-lo, o abraçou, ele apenas continuou andando sem prestar a mínima atenção,
foi o suficiente para a jovem abraçadora se estabocar no chão berrando
impropérios ao impávido Tino, e saiu em disparada atrás do totó. Ela
nitidamente raivosa, ele na mais perfeita paz, o nosso nobre contentava-se a ir
andando a passos lentos, acho que tentando, telepaticamente, fazer o Tino
perceber que pessoas daquela posição social não pediam estar entre os gramados
do condomínio de praia, correndo atrás de um cachorro. Cheguei a ver um balão
de quadrinhos sobre sua cabeça escrito: onde andavam os criados?
De imediato
identifiquei-me com o Tino e passei, silenciosamente, claro, era eu que estava
no campo do adversário, a torcer pela sorte daquele cachorro que parecia um
tolete albino. Passei a imaginar, caricatural e meio preconceituosamente , o
cotidiano do Tino: desjejum de água fresca e ração dura e seca, ao final de
tarde, outra bacia de água e ração dura e seca. Durante os telejornais nenhuma
palavra, muito menos latidos, podiam ser proferidos, na hora da novela então,
vixi, aí era correr risco de expulsão e excomunhão.
Crianças fedendo
a talco, de roupas de frufrus a apertar a garganta do bichinho enquanto o
gorducho, orgulhoso, mostrava a todos como seu garoto era forte e destemido,
esta loucura aos domingos, todos os domingos... Ah! Se Deus fosse cachorro,
duvido que inventasse o domingo.
Durante a
semana, menos mal, a jovem senhora com seus milhares de afazeres sociais e o
nobre em seu escritório resolvendo os problemas do mundo... Dizendo ele. Tino
ficava em paz, só era lembrado na hora que sobrava uma comidinha e uma boa alma
lhe dava às escondidas, no mais era como se não existisse, nem ele, nem ninguém
ali, por isso, cheguei a grande conclusão: ele continuava andando pra onde seu
nariz aponteasse, afinal aquelas pessoas não existem,aquele local idem, nem ele
próprio existia, em sendo assim... lá se ía, como diz a música – “sem lenço e
sem documento”.
De olho
colado na cena, descuidei-me e acabei saindo do anonimato para dentro do
roteiro. A jovem senhora me viu e, pior, no momento em que estava com um
sorriso de prazer profundo colado no rosto. Não havia dúvida alguma de que
naquele embate estava eu ao lado do nosso Dom quixote de quatro patas. Ao me
ver saiu imediatamente da condição humanamente descontrolada, descabelada,
enlouquecida para a pose da Rainha da Inglaterra, apressou o passo e disse alto
para que chegasse a mim:
- Isso
mesmo Tino, vamos passear! Você está muito gordo, necessita fazer exercícios,
vamos.
Tino nem
tchunf, como antes, continuou reto em busca do seu Nirvana, após um tempo
descruzamos os nossos caminhos e os perdi de vista, mas continuei sorrindo e
pensando:hoje a madame vai passar um dia de cão.
Roger
Ribeiro
06 maio de
2016.
Uma cena como essas, é pra Tino desatinar! Mas ele é da sua praia,o que importa,é que tendo borboletas e calçada boa para trotar,a poesia, enche a barriga.
ResponderExcluirO título também poderia ser, a revolta do cão petralha!! Rs
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