“come on baby
transformar esse limão em limonada
(...)
transformar esse limão em limonada
(...)
seguir o coração, em
disparada
numa estrada que só tem a contramão”*
numa estrada que só tem a contramão”*
- Sim
(disse o gerente do RH, ou seria o psicólogo? Bem vamos adiante), liste-me porquê
o senhor acha-se apto para a vaga?
- Em
primeiro lugar porque sou formado pela Universidade Federal da Bahia em
Regência com especialização em Violão Clássico, sabe do que se trata não é
mesmo? Erudito, não tem negócio de serenata na praia em Lua Cheia não, é
Orquestra mesmo.
Também
toco piano e sanfona, esta última em homenagem a meu maior ídolo - o Rei Luiz
Gonzaga, conhece? “Quando olhei a terra arder...”, ele é que canta e toca o
resto é com o Humberto, mas não vá confundir, não é o Humberto que assina a
carta de referência aí na frente não, este é meu ex-cunhado, se é que isso
existe, estou falando do Mestre Humberto Teixeira, êta “cabra bão”.
- Sim, mas
parece que o senhor não está...
- Olha
querida Banca, conheço um pouco dos meus direitos referentes à entrevista e sei
que não posso ser interrompido em meio ao detalhamento do que me foi perguntado.
Sendo assim, prosseguirei.
Tenho
também vasta experiência em trilhas para o cinema e teatro, os senhores
certamente assistiram ao curtíssimo curta “Fechei meus olhos”, sem falar na Menção
Honrosa ganha no festival Teatro de Rua, isso faz... Acho que uns nove anos, a
trilha era demais! Cinqüenta minutos de sustentação de um Si Bemol pelo
violoncelo, emocionante, não tem outra descrição: emocionante, ganhei até um largo
sorriso do mestre Ataualba.
Enquanto
isso, na sala anexa, uma dezena de concorrentes aguardavam segurando suas
pastas, livros, documentos e afins. No ambiente aquele cheiro de adrenalina que
explode pelos poros. O tempo parecia congelado, cada candidato possuía dez minutos,
não mais que isso, para a última fase rumo à sonhada vaga: a paralisante
entrevista. Antes dali passaram por três outras fases e, de um total de mil e
quinhentos candidatos, agora só restavam aqueles quinze, era uma disputa
acirrada, apenas um sairia dali “coroado”. Mas, retornando à sala da
entrevista...
- Caro
candidato gostaríamos que o senhor se ativesse ao universo condizente com a
situação (expressou com desagrado aquele que deveria ser o presidente da Banca).
- Claro!
Como não? Sendo assim não poderia jamais deixar de lembrar que também fiz parte
do primeiro grupo de pichadores desta cidade, sim não havia esse negócio
moderno de grafiteiro, éramos todos chamados de pichadores, e euzinho fazia
parte dos primeiros, vocês devem lembrar... Tinha o “Faustino” do Miguel, o
“transforme” do Marcus, isso só pra citar alguns que vocês devem reconhecer. Eu
fazia parte dos que faziam divulgação dos shows nos muros da cidade, arte e
publicidade, não sei como não fui contratado, a peso de ouro, pelas grandes da
propaganda. Aliás, sei sim: panelinha... Pode crer amizade, panelinha...
- Sim meu
caro candidato, mas...
- Pinauna,
é assim que o mundo me conhece, meu nome de batismo ficou no passado.
- Mas nós
não podemos nos referir ao indivíduo, somente à sua condição de candidato,
assim: estamos vendo aqui que suas avaliações, nas três etapas anteriores,
foram excelentes, mas gostaríamos de saber do senhor sua experiência especificamente
em relação ao cargo pleiteando.
- Claro! Veja
bem, andava eu acabrunhado, desbeiçado de todo, já não sabia a que ou a quem
recorrer, diria até aos senhores que minha condição humana havia se
desfigurado, foi dentro desta plena certeza de estar desumanizando-me que me
ocorreu poder viabilizar um projeto que estabelecesse o elo entre o estado das
coisas, lembrando aos senhores que a coisa, no caso, trata-se da minha pessoa.
Assim decidi...
- Meu
amigo, o seu tempo está se esgotando e até o momento ainda não conseguimos
identificar o que há de ligação entre você e este local!
- Amigo?
Você? Vocês precisam se definir, afinal segundos atrás os senhores me disseram
que eu era apenas um candidato e que os senhores, sem fisionomia e nome, seriam
uma Banca! Vocês estão querendo me confundir? Tenho todas as condições
necessárias para estar aqui, afinal, pergunto a vocês, senhores, ou como
queiram que os trate: existe alguém mais apto do que eu?
- Senhor
candidato, apesar de suas excelentes avaliações como já dito, realmente não
enxergamos nexo entre as suas habilidades e o cargo disponível. Enfim, e, por
favor, seja claro, qual o seu interesse no cargo?
- Não
tenho o menor interesse. Estou aqui apenas para poder comunicar ao Senhor
Digníssimo Presidente desta conceituada e internacional empresa que, de hoje a
sete dias, estarei casando com sua filha, afinal:
“a vida
não tá certa, nem errada
aguarda
apenas nossa decisão”*.
Roger Ribeiro
25 de abril de 2012.
*Tudo ou Nada – Alice Ruiz e Itamar
Assumpção.