segunda-feira, 18 de maio de 2009

Psicólogos para todos!





Sim, o resultado realmente foi muito pior do que o esperado! Quanto? Ora, você vai me dizer que não sabe? Sei que sabe, sei que queres ouvir de minha boca para ser mais saboroso... Tem problema não, faz parte da mística do esporte, é a sua vez de saborear minha derrota. Tudo bem foi “quatroazero”, falei rápido e meio embolado.

- Como?! Não entendi. Quanto foi mesmo?
Engoli a ira e, vagarosamente, repeti: quatro a zero. Respondi, agora, bem pausado e frisando bem o zero. No fundo, nutria naquele momento e ainda agora, a esperança de na quinta que vem darmos o troco. Golear! E com a cara mais alegre do mundo, sair pela rua cantando e dançando, orgulhoso com heróico resultado: a vitória. A busca da consagração.

-Pra quem? Perguntou-me com sua voz nasalada, irritantemente nasalada. - Fanho filho da p... Controlei-me! Mas confesso: foi por pouco! Meu deus, pensei, seria totalmente politicamente incorreto, poderia até ser processado por discriminação social.

Ah! Que saco esses tempos atuais e seus direitos e advogados prá tudo que é lado. Tenho cada dia mais a certeza de que a profissão do futuro é a psicologia, psiquiatria e afins. Todas as ciências e não ciências que trabalhem com traumas, neuroses, psicoses, síndromes e todas as formas de “desarranjos” cerebrais. Afinal não se pode mais esbravejar, xingar, ameaçar! Não se pode mais nada?! Como vamos soltar nossos demônios?

Pela leitura pouca e superficial que tenho do menino Freud, lembro-me de em alguma obra ter lido que as neuroses, psicoses e afins são provenientes exatamente da retração de nossos instintos naturais. E nesse “mundiculo” de magistrados, advogados, juízes, promotores, leis, emendas e o “cacete a quatro”, ainda se juntam os injustiçados... Sabe lá de que? Ou de quem? Como dizia aquele rockinho dos anos oitenta do Ultraje à Rigor, “como é que vou crescer se não tenho com o que me rebelar?” Só que agora é diferente, é como vou manter-me são com esse advogado de plantão aqui do meu lado?

Pronto! Não duvide minha amiga, logo aparecerá um rapaz, de cabelo curto, bem penteado, de paletó e gravata, sapato preto lustroso, pasta de mão cheia de papeis (teoricamente escritos), com os trinta e dois dentes (você já reparou que advogado tem sempre todos os dentes? Mesmo que sejam falsos, mas tem), falando bonito e gesticulando minuciosamente, para me explicar que serei processado por estar de forma pré-conceituosa e acintosa desfazendo da categoria dos magistrados em Direito. Ui! Lá vem conta, penso imediatamente.

Pois como não podemos mais verbalizar, expor algo absurdo só para não explodir, então engolimos, sem água, sem um pão velho sem nada! A seco, goela abaixo. Resultado: três anos depois... Gastrite meu filho, diz o doutor, é isso que tens. Cinco anos depois úlcera... 10 anos depois stress, quinze anos camisa de força e injeções de drogas tarja pretas! Céus, que horror.

Por isso, há uma semana atrás, entre uma chuva e outra, peguei minha máscara de mergulho, o respirador, botei meu maiô de banho, uma camisa de meia velha para proteger do sol e fui mergulhar nos corais que ornam o Farol da Barra. No trajeto até a praia, passava pelas pessoas e sentia que todas me olhavam com uma ponta de inveja, afinal era uma terça feira onze horas da manhã e lá ia eu, peito aberto, mergulhar nos corais do Farol.

Ria no meu íntimo. Na verdade, estava retornando de uma reunião em um dos meus trabalhos e o volume de absurdos que tiveram de ficar sem a resposta adequada, por questões hierárquicas, era tão grande que resolvi ir para baixo d’água, e, lá estando ﮩ†ßØ¿Ÿ‰*…‰¢×Ø, era tanto impropério que as bolhas de ar custavam o dobro de tempo para pocar na superfície. E quanto mais ali naquele local, sem nenhum advogado por perto, eu vociferava, gritava, urrava... Mais me sentia leve, tranqüilo, ah! Aquilo sim, é que era terapia.

Após uns dez minutos de pragas, xingamentos, e afins notei que os peixinhos estavam de longe me olhando assustados, com cara de quem não estavam entendendo nada! Se é que peixe entende alguma coisa em algum momento. Sorri e pensei: coitados, eles não tem nada haver com isso! Pelo menos não iriam se ofender e nem me processar.

Voltando a meu amigo fanho e sua pergunta, respondi: para o Vasco da Gama. Alteei a voz e repeti: quatro a zero para o Vasco da Gama do Rio de Janeiro! Está satisfeito agora? Ele sorriu e disse: - e foi pouco! Vocês deram sorte. Tombei a cabeça como quem entrega os pontos e pensei: - vou voar no pescoço dele!

Respirei fundo e falei bem baixinho: a violência é a alma dos fracos. Sorri para ele e parti para mudar o rumo da conversa, pois era ele um grande amigo, desses de emprestar dinheiro e não cobrar... Sabe como é? Estão cada vez mais raros, mais ainda se encontra um aqui, outro ali. Meu amigo fanho é um desses, por isso, não pelo dinheiro, mas pelo seu apreço e amizade pura e sincera, jamais deixaria algo atrapalhar nossa relação, ainda mais futebol, eu hem! Nunquinha.

Além do mais, como já disse, a curtição do derrotado faz parte do jogo bretão assim como os jogadores, a tática, as traves, as linhas, as poucas regras, os dribles, o talento, a manha, a cera, o arbitro, os bandeirinhas, o gandula, a torcida, o estádio, a bola, o gollllllllll do locutor radiofônico e a maldita curtição do meu amigo fanho que nem torce pelo Vasco da Gama. Aliás, como bom bacharel em Física, creio que não torce para ninguém e na verdade nem sabe o que se disputa ali naquela arena moderna.

Mas mesmo os físicos, fanhos, com cara de meninos criado pela avó, olhar de louco tipo Jack Nicholson em Estranho no Ninho (assim é meu amigo), até pessoas com esse perfil, por não poderem mandar quem merece para a P... q P...., resolvem se “bater de cara” comigo nessa esquina, debaixo desse sol escaldante e largar uma tonelada de gracinhas na cara do Zé aqui!

Despedimo-nos, prometemos visitas mútuas e partimos. Afinal, a vida continua. Ainda sorria da alegria de ver meu amigo assim de humor elevado quando ouvi uma voz familiar que saia de dentro de um carro, cor de prata, que vagarosamente ao meu lado se postava: - quer uma carona ou vai de quatro?

Virei “em chamas” e... Vá tomar no... Me controlei, ainda bem, ufa! Além de familiar era uma voz, inconfundível. Era um advogado.

Acho que necessito de uma terapia.

Roger Ribeiro.
15 de maio de 2009.

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