Encontro,
juro, em meio ao nada, um coração trincando, dentes rosnados, cerrado. Seco
acima do Sertão, encurralado como um Cordão de jovens apaixonados em alegorias
de carnaval, alegorias, quem sabe, históricas?
-
Menino saia da rua. Isso é coisa para gente de família!

Algo
dizia que aquele coração andava sobre papeis de arroz. Naus que deixavam em
seus sulcos algo púrpuro, algo como um blues do Cassiano, um devaneio do
Cervantes, uma jogada errada do errante, uma gota d’água na testa do mal
pensar, mas deixemos de filosofar, posto o nosso, perdoou-me a ousadia de
dividir com te o que criei para mim, mas se assim não fores... que farás lendo
este relato de data imprecisa?
Isto claro;
por volta do início do texto, ele, sabe lá (menor) quem? Encontrou, largado
sabe lá (agora maior), um coração. Problema? Sim, claro..! Qualquer um que
encontre um coração estará, irremediavelmente, adquirindo um problema. Mas vamos em
frente:
Pergunta
o “achante”.
-
Mas! ... O que faz aqui este ser que apenas não cumpre a sua função de bater?
Aqui às minhas costas há um relógio, fico intrigado com o talento
rítmico do mesmo, bate-bate-bate, não perde um tempo, um metrônomo para as
idéias, um desastre em sendo mal usado, afinal é um verbo ousado e como tal
exige superação – extra sensibilidade extraordinária.
Bom,
sem expiração para responder, afirmou ter, o ser, e também o ver (este é mais
difícil), segredou ser apenas um som, dizia:
-
Tudo o que pensas ver, não passa de sons.
Batia,
sorria e ardia o coração. Dizia nunca ter conhecido uma célula com tanta
vontade de gostar. Padecia de imaginar que em muito, ou quase tudo, o que está
por detrás de todas as varizes das artérias, era o gostar, o desejo de que o
meu gostar seja mais gostar do que todos os gostares, “(...) que gente maluca
tem que resolver (...)”.
Nada
naquele instante se fazia mais presente do que aquele coração, encontrado em
meio a uma constelação, afinal poderia ser muito bem o último de uma geração,
ou pior: de uma gestação. Êta planeta confuso, aliás, desculpe, êta serzinho
confuso...
Não
seria muito mais simples apenas admitir que, ali estava em carne, sem osso, uma
presença intergaláctica, interfásica, uma luneta a ver o olho do ser, seu lume?
A transubstanciação ao bater o garfo na tirrina vertendo a clara em neve, o
desmaio no espanto ou, simplesmente, em reta a estrada de Santos?
Lá
íamos já longe quando finalmente consegui encontrar o momento certo, justo -
disparei:
-
Mas afinal, quem és? De onde vens? Para onde vais?
O
sólido que existia entre meus braços, desapareceu.
Roger Ribeiro.
22 de dezembro 2015
22/12/2015