quinta-feira, 8 de julho de 2010

A Ironia da História.



“Querido amigo Afonsinho” que bom encontrá-lo por aqui, afinal o Itamar Assumpção já partiu, foi lá encontrar com o Leminsk, que, te confesso, também poderia me ajudar, assim sobraram poucos, dos bons, e os que por aqui ficaram são raros, difíceis, quase impossíveis encontrar. Assim, creio que você possa me explicar: afinal o que está acontecendo?

Veja você meu amigo cabeludo, estou a cinco (anos-luz) dias da final da primeira Copa do Mundo da África, e a coisa mais sensacional que dela brotou foi a bola, ela, a redondinha, linda, escorregadia, a pelota, a tal da Jabulani... Tanta gente dela reclamou, mas o que seria desta Copa sem ela?

Veja só os três últimos maiores jogadores do mundo, todos três ainda novos e garbosos, chegaram ao Continente africano e partiram sem dizer para que vieram. Só ela, garba, driblando a todos, entortando os marcadores, os atacantes, os melhores goleiros do mundo dela tornaram-se vassalos. Desfilava bela, linda e solta pelas quatro linhas sem ser incomodada por ninguém.

O grande astro, o grande encanto foi a Jabulani, ninguém conseguiu dominá-la!!

Sabe Afonsinho, conheci o futebol através de uma bola marrom, que tinha a cara do Pelé estampada, meus pais traziam-na semanalmente do supermercado, sua validade era de uma semana, já vinha toda empenada, oval, parecia a cabeça do Edson Arantes mesmo, toda torta, por isso tínhamos de rapidamente desenvolver um talento enorme para dominá-la minimamente, mostrar quem mandava ali! E enfim, conseguir dar aquele passe perfeito. A bola nos obrigava a aprimorarmo-nos, termos talento. A bola estava sempre em desequilíbrio então tínhamos também de nos desequilibrar! Nós, a bola, ou melhor; a “ovoala”, as traves de chinela Japonesa e o goleiro.

Para piorar jogávamos em uma rua calçada de paralelepípedos o que fazia com que nossa Jabulani jamais descrevesse uma linha reta, portanto era necessário ser um Cezar Lattes, um Mário Shemberg, Einstein, ou algo do gênero para descrever trajetórias que levassem a um passe, um lançamento perfeito. Por isso quando revejo os lançamentos de Gerson, Clodoaldo em 1970, Mário Sérgio, Osni e Gibira em 1972, Zico, Sócrates, Junior e Falcão em 1982, tantos outros..., tenho a certeza de que eles devem ter começado pela bola Pelé.

Mais tarde, lançaram a bola Chuveirinho e por fim a Dente de Leite, aí tenho também certeza, o futebol começou a acabar, iniciou-se a Era dos batedores de falta, os torpedos humanos que só sabiam chutar forte, mas e o “elástico do Rivelino! Cadê?

Pois é Afonsinho, agora inventaram que estádios para as Copas do Mundo, tem de ser HI-TEC, cheio de balangandãs, novinhos, ultramodernos, grama quase de ouro, arenas não sei das quantas, salas Vips, centrais de irradiações alfa, beta e gama, um monte de periferia, um monte de dinheiro jogado fora e, eu te pergunto, prá quê? Tudo está lá, menos o futebol, mas pra que futebol se já tem tudo isso?

Você viu onde as seleções ficam?! Meu querido, marajá perde, são palácios, hotéis e clubes quinhentas estrelas, é um luxo absurdo em terra de famintos! É uma afronta, o povo de vuvuzelas chinesas na mão, literalmente soprando a felicidade na saliva e os “astros” banhando-se em “águas de prata”, sem dó nem piedade de exigir vasos sanitários mais custosos do que a renda mensal de um terço da população local somada... Vixi! Lembrei do que o velho Mané fazia nos campos enlameados Brasil afora.
É meu querido, transformou-se o mundo! A Olimpíada que nasceu para ser praticada na nudez e o futebol que se jogava nas várzeas do Brasil, Argentina, Itália e até mesmo na Alemanha, hoje só pode acontecer se milhões de dinheiros forem pegos emprestados, se milhões não forem parar na educação, na saúde... Só assim Afonsinho, “eles” terão certeza de que ninguém vai perceber que dia 30 de abril de 2010, a mais alta magistratura jurídica do nosso país disse ao mundo: NÃO EXISTE CRIME DE LESA HUMANIDADE!

Que vergonha que sinto amigo... Pior ainda será a crueldade da história se fizer da Holanda, uma das criadoras do regime do Apartheid a nova Campeã do Mundo, em plenos milionários estádios da África do Sul, sitiada de miséria por todos os lados.
Roger Ribeiro
07 de julho de 2010.

2 comentários:

  1. É, o mundo anda muito complicado...Em 2014 veremos uma nova versão desse filme em terras brasileiras.

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  2. Olá, que bom que sua cabeça continua bem arejada. Pois é, nem sempre o mundo real e as verdades são leves e agradáveis.

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