sexta-feira, 3 de abril de 2009

Pai


“Pai!
Pode ser que daqui a algum tempo
Haja tempo prá gente ser mais
Muito mais que dois grandes amigos
Pai e filho talvez”...
(Fábio Jr.)

Por no mundo, orientar... O que fazer? Dizer sim ou não? Como posso ser pai se fui filho há tanto tempo? Sinto-me filho do meu filho quando penso na velocidade da atualidade que não consta da minha programação cromossômica! Sinto-me pai do meu pai, quando penso em quantas verdades caíram desde o primeiro momento em que ele, “sentou a beira do caminho” comigo e me disse: “a vida é para valer, eu fiz o meu melhor e seu caminho eu sei de cor”. Não, não sabia.
Foram muitas mudanças de lá prá cá, conceitos, barreiras, muros caíram, verdades foram varridas para debaixo do tapete, utopias tornaram-se estampas de camisetas, nas vitrines das caixas de compras urbanas. Hoje, quando olho a velha foto amarelada, com seu sorriso sério, que combinava perfeitamente com o seu largo bigode, orgulho das vendas do bairro, sei o quanto foi difícil para você, ver sua cria, sumindo nas brumas de um mundo que se transformava frente aos seus impotentes olhos.

[...] “Meu pai, como vai? Diga a ele que não se aborreça comigo, quando me vir beijar outro homem qualquer, diga a ele que eu quando beijo um amigo, estou certo de ser alguém como ele é, alguém com sua força para me proteger, alguém com seu carinho, para me confortar, alguém com olhos e coração bem abertos, para me compreender!” (Gilberto Gil).

Por isso, quando penso em pai, penso em filho e quando vejo esse elo, vejo o tempo que voa nas asas do vento, que passa pelas velhas batas indianas e calças desbotadas dos filhos que hoje são pais contrastando com as calças de grife e correntes de prata dos filhos que serão pais. O mais importante é que do velho conflito de titãs, brota o novo, que, assim como o bambu, cresce sempre para o alto, para bem lá das alturas, curvar sua ereção, como quem, humildemente, reverencia a terra que lá de baixo, assiste a tudo com a sabedoria das pedras que rolam e não criam limo.

Roger Ribeiro.
2008.

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