sexta-feira, 3 de abril de 2009

Toc, toc, toc... Quem vem lá?


- Estavam aqui?
- Sim, estavam.
- Muito antes de tudo isso?
- Sim! Exato.
- Com suas vergonhas de fora?
- Sim, estavam em toda parte. Sobre as árvores, nas matas ralas, nas margens dos rios, mares... Sim, lá estavam com sua pele abrasada e tonificada pela tintura brasil. Eram os donos de tudo e, como tal, espalhavam-se.

Do nada chegaram os brancos. Vinham em grandes luas de madeira. Usavam uma plumagem reluzente e uma forma incisiva de falar. Chegaram como donos e, como tal, começaram a ordenar: - ergue uma cruz aqui; você, prá lá e você, prá cá. Tudo com o dedo em riste, “donos do pedaço”, aliás, pedaço lhes dado sabe-se lá por quem! Ou melhor, por um tal de Papa, que aos olhos dos aborígenes, que não possuíam esta noção de posse, Papa. Rei, ou seja lá quem fosse, pouco ou nada dizia. Mas possuíam uma madeira que fazia trovão, fogo e matava como nunca se havia visto pelas terras dos papagaios. Eram feiticeiros. Donos, portanto, espalharam-se.

Estes mesmos estranhos brancos, revestidos de plumagem sólida e brilhante, trouxeram outros mais diferentes ainda. Eram escuros, negros mesmo, viviam amarrados e possuíam os olhos sempre avermelhados e destes percebia-se um jeito longínquo de fitar.
Logo perceberam que o inferno não havia acabado ao serem desempilhados das luas crescentes de panos encardidos, aliás, perceberam logo que não eram mais donos de nada, nem mesmo de si. Foram espalhados e “esquartejados”.

Não era possível acontecer mais nada não é? Engano seu! De repente começaram a chegar outros, desta vez vindos de balsas tão brilhantes como a plumagem sólida dos que chegaram sobre as luas e, do meio dessas balsas, subiam troncos reluzentes que não paravam de fazer fumaça, parecia a madeira dos brancos iniciais, mas da barriga dessa fornalha começaram a sair seres mais brancos ainda, já não vinham com plumagem brilhante nem sólidas. A plumagem que cobria seus corpos era leve e solta, parecia uma folhagem multicolorida. Eram tão brancos que facilmente se rosavam, sobre a cabeça exibiam um encordoamento quase branco, outros avermelhados. Nitidamente sofriam com o sol inclemente das baias tropicais por isso foram escorregando para regiões mais frias. Não eram donos, mas sentiam-se como tal e, como tal, espalharam-se.

Meu Deus, o que falta acontecer? Dos poucos que sobraram havia os originais, de um vermelho escuro encarnado, também os brancos encardidos, os negros enigmáticos como a noite, agora os alvos rosados, uns espalhados, outros se espalhando, ocupavam as antigas matas e misturavam-se. Uns por prazer, outros por cruz, uns com prazer outros por júbilo e, de repente, como se ainda fosse pouco, lá vêm eles! Amarelados, de baixa estatura em sua maioria, falando uma língua que parecia muito os sons das antigas matas.
Não sei como enxergavam, possuíam os olhos rasgados e carregavam suas crias em embalagens presas às costas. Sabiam que não eram donos de nada, por isso se agruparam nos menores espaços possíveis. Parecia que queriam que ninguém os notassem, novamente foram usados e abusados pelos que se diziam donos. Não se espalharam, concentraram-se.

E de repente, e isso só pôde ter ocorrido pela ausência, sentida e lamentada, do síndico Tim, chega, sem aviso prévio, sem nem mais nem menos, os PINGUINS!
- É o quê?!
- Sim, acreditem, um monte de pingüins “descompreendidos”, se é que pingüim foi compreendido alguma vez (?). Aportam assim como se todo dia na rodoviária de Salvador chegassem e partissem normalmente, sem cerimônia estes seres que vivem nas águas e pedras dos mares, não voam nem fazem belas vocalizes e que se dizem aves!? Seres naturais de temperaturas geladas, chegaram.
- Onde chegaram?
- Ora meu amigo, qual o único espaço tropical possível de vir se ater até mesmo pingüins? Claro, na velha Bahia de Todos os Santos. No Porto da Barra, óbvio.

O espaço mais democrático do planeta, que já viu os banhos do cachorro vermelho de Armandinho, que já assistiu naturalmente os banquetes tropicais de Marcos Desbunde, que já parou e suspirou ao passar por sua areia, sereias como Lau, Nem, Maria Luedy, as irmãs Silveira e tantas outras meninas baianas com seus “encantos que só Deus dá”. Pois nesse “oásis” de civilização veio esbaldar-se uma turba de pingüins.

O que esperar agora...? Ora, ora meu leitor atento, pode aguardar, pois, lógico, em breve chegará o “Homem Morcego”, o Batmam. Afinal, “(...) domingo no Porto da Barra todo mundo agarra, mas não pode amar”.

Pode chegar, tem espaço pra você também. Êta serzinho esquisito!

Roger Ribeiro
15 de agosto de 2008.

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